http://doraincontri.wordpress.com/2011/11/16/retrocessos-autoritarios-a-vista/
Outra notícia grave que está percorrendo a internet (e com o apoio de muitos) é a proposta de mudança do ECA (Estatuto da criança e do adolescente) para criminalizar as agressões e “desrespeito” dos alunos aos professores!
Esses sintomas revelam algo muito grave em nossa sociedade: acreditamos muito mais na polícia, na repressão, na punição – leia-se vingança social – do que na educação. Colocar a polícia em cena em locais onde se pretende fazer educação é declarar a falência da própria educação! Tratar crianças e estudantes como bandidos (por mais que estejam agredindo e se revoltando – então temos que descobrir as causas dessa revolta e tratá-las – a educação é justamente para isso!) é mostrar que não acreditamos na força do diálogo, da construção de personalidades autônomas e pensantes, que não damos o mínimo valor ao que uma boa educação – quando cultivada – consegue fazer: trazer à tona o divino que existe em todas as criaturas, para que elas sejam melhores…
Mas a sociedade não está satisfeita: quer a diminuição da maioridade, quer criminalizar agressões dentro da escola! E o que a sociedade faz pelas crianças? Que estímulos positivos dá? Que educação oferece em escolas públicas que mais parecem presídios que escolas? Aliás, deveria ser o contrário: os presídios deveriam mais parecer escolas e não escolas parecerem presídios. Isso revela o quão pouco fazemos pela educação. Quando pensarmos em todos os níveis, mais em educação que punição, mais em investimento no que é positivo do que em repressão ao que é negativo, mais em oferecer alternativas de vida, de aprendizagem, de esperança e sonho, do que impor limites, regras, amarras… então estaremos de fato contribuindo para a melhoria da escola, das crianças, dos jovens, das universidades e da sociedade em geral.
Façam-se das escolas lugares com boa música, com flores, com natureza, com professores estimulados, bem renumerados, capacitados, amorosos… Façam-se escolas com teatro, poesia, com cores, com escolha livre de projetos interessantes e não com aulas mortas, em classes de 40 pessoas, diante de uma lousa… Façam-se escolas onde de fato se aprenda, com computadores, com midiatecas bem equipadas, com laboratórios, material didático farto e de ponta… Façam-se escolas com corais, orquestras, grupos de dança… E não haverá mais problemas de disciplina, evasão, agressão… Há diversas experiências no Brasil e no mundo que demonstram isso!
Entendamos que a violência, a punição, a repressão, humilham, causam mais revolta, pioram o ser humano, que se já está em crise, se torna um bicho acuado. Ao passo que o diálogo, o respeito, a confiança, a construção paciente e humana de um processo pedagógico restaura a integridade da pessoa e a torna melhor.
O problema fundamental dos repressores é que eles não acreditam na bondade humana. São amargos, pessimistas, não creem que o amor possa despertar o anjo que mora em nós, mas acham que a violência tem que reprimir o bicho que somos. No entanto, se essas pessoas, que assim pensam (e são muitas) se autodenominam cristãs, deveriam lembrar-se de algumas palavras de Jesus:
“O reino de Deus está dentro de vós!” e “Vós sois deuses” – isso significa que todos temos uma bondade essencial que precisa ser tocada e despertada.
“Perdoai setenta vezes sete!” e “Misericórdia quero, não sacrifício!” – quanto mais isso se aplica com uma criança, um adolescente, que estão começando, que precisam de afeto, orientação e compreensão!
“Deixai vir a mim os pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus” – Jesus disse que era preciso nos fazermos como crianças para entrarmos no Reino, isso significa uma primazia da inocência, da pureza e da bondade natural da criança. Se ela agride, se está desajustada, ela está reagindo a uma situação negativa, está com um problema que tem que ser resolvido amorosamente. Ela não é má, não está endiabrada (como querem as professoras evangélicas, que andam fazendo exorcismo dentro das escolas públicas – isso será objeto de outro artigo), não é uma peste!!! Ela precisa de amor e ajuda.
“Amai os vossos inimigos e fazei bem aos que vos perseguem”. O que isso significa? Essa é a essência da mensagem de Jesus: combater o mal com o bem e não nos tornando piores que os agressores. Acender uma luz para dissolver as trevas e não nos tornando inquisidores dos que achamos que estão errados (e às vezes nem errados estão!).
Fica então essa mensagem, que é de Jesus, de Gandhi, de Buda, de Confúcio, de Francisco de Assis e dos grandes educadores, como Comenius, Pestalozzi, Eurípedes… O dia em que acreditarmos na força do amor, da bondade, do diálogo e da compaixão, deporemos nossas armas internas e vamos arar os corações com instrumentos de paz!